Critérios a respeito dos videntes:
- Deve ser verificado o estado de saúde
física e mental dos videntes por parte de médicos competentes e
psicólogos ou psiquiatras a fim de que não se confunda alucinação com visão.
- É importante verificar se há falta de sinceridade
e de humildade da parte dos videntes, se há interesse em tirar proveito próprio
ou em se colocar no centro das atenções.
- Verificar os contra-testemunhos que os videntes
apresentam na vida cotidiana, a falta de respeito e de obediência aos pastores,
a exploração das emoções com objetivos comerciais, políticos ou outros
interesses.
- O objetivo de qualquer revelação autêntica é a
edificação da Igreja. Por isso, tudo o que a divide, tudo o que leva ao pecado,
tudo o que não leva à evangelização não pode vir de Deus.
"Os videntes deixam de ter credibilidade a
partir do momento em que procuram sustentar com apoio celestial,
portanto, com autoridade pretensamente superior à da Igreja, uma certa
orientação doutrinária, da qual se estivesse convencido; ou então promover mais
facilmente certos aspectos da vida cristã, como os sacramentos, valendo-se da
tendência das massas para o maravilhoso"2.
B) Critérios a respeito da mensagem transmitida
pela aparição
São basicamente três os critérios a serem indicados
aqui:
1º) Ortodoxia: o conteúdo da mensagem das
aparições não pode estar em contradição com a revelação bíblica, nem com a
doutrina da Igreja.
2º) Convergência: O conteúdo da mensagem deve estar
em sintonia com as linhas pastorais da Igreja e os pastores podem encontrar
nessa mensagem matéria para incentivar a vida pastoral e a conversão e
renovação da vida cristã.
3º) Coerência: Deve haver uma coerência entre o
que os videntes vêem, ouvem e dizem. O conjunto deve formar uma mensagem
coerente.
Além disso, toda autêntica aparição há de ser
coerente com as linhas e o espírito do Evangelho. Assim, as muitas minúcias
(quanto a datas, local, duração e tipo dos fenômenos preditos) merecem
reservas, pois não são habituais na linguagem da Sagrada Escritura. O Senhor
Jesus mesmo recusou-se, mais de uma vez, a revelar a data de sua vinda e do fim
dos tempos (cf. Mc 13,32; At 1,7).
C) Critérios a respeito das ressonâncias da
aparição
1º) Sinais: O fenômeno pode estar acompanhado de milagres,
curas, conversões, fenômenos cósmicos extraordinários em favor da veracidade da
aparição, os quais, porém, devem ser cuidadosamente examinados pela ciência e
pela teologia. E como dizia o Papa João XXIII, em sua radiomensagem de
18/02/1959, comemorativa do centenário de Lourdes, que os dons extraordinários
são concedidos aos fiéis "não para propor doutrinas novas, mas para guiar
nossa conduta"3.
2º) Que Frutos espirituais estão surgindo
em decorrência da aparição? Trata-se de conversões, renovação da vida cristã,
devoção mais intensa e mais qualificada a Nossa Senhora, amor à Igreja,
vocações missionárias, sacerdotais e consagradas?
Caso o resultado dos exames acima sejam positivos,
a Igreja não somente permite, mas favorece o culto ao Senhor ou ao santo(a) que
se julga ter aparecido. É o caso do culto a N. S. de Fátima ou de Lourdes,
havendo inclusive a festa respectiva no calendário da Igreja. Importante:
embora a Igreja favoreça o culto a Nossa Senhora em tal ou tal lugar, ela não
obriga os fiéis a acolher as respectivas revelações particulares, uma vez que
elas não fazem parte do depósito da fé: fica a critério de cada fiel julgar as
razões pró e contra a autenticidade de cada "aparição" não
condenada pela Igreja e daí assumir ou não sua mensagem para a própria
vida.
A respeito de tais fenômenos extraordinários, o
Papa Bento XIV (1740-1758) publicou o seguinte: "A aprovação (de
aparições) não é mais do que a permissão de as publicar, para instrução e
utilidade dos fiéis, depois de maduro exame. Pois estas revelações assim
aprovadas, ainda que não se lhes dê nem possa dar um assentimento de fé
católica, devem contudo ser recebidas com fé humana segundo as normas da
prudência, que fazem de tais revelações objeto provável e piedosamente
aceitável"4. Esta posição tornou-se clássica na prática da Igreja.
Pode acontecer ainda que a Igreja se abstenha de
qualquer pronunciamento a respeito dos fenômenos e do culto prestado em
decorrência dos mesmos. É o que acontece na maioria dos casos: não há motivos
para condenar os fenômenos relatados; nem a saúde mental dos (as) videntes dá
lugar a suspeitas nem as mensagens apresentadas por eles contêm alguma heresia
ou erro na fé. A Igreja considera os frutos pastorais que decorrem de tais
mensagens: muitos fiéis se beneficiam peregrinando a tal ou tal lugar ou
santuário; aí se convertem, recuperam ou adquirem o hábito da prática
sacramental, da oração... Por tudo isso, a Igreja deixa que a piedade se
desenvolva até haver razões de ordem doutrinária ou moral que exijam algum
pronunciamento.
Diante dos fenômenos de aparições e revelações
particulares, a Igreja tem a obrigação de ser prudente. Ela é responsável pela
preservação da doutrina da fé. Por um lado, ela sabe que o Espírito Santo pode
falar por vias extraordinárias, de tal modo que não lhe é lícito extinguir o
Espírito (cf. 1 Ts 5,19s); por outro lado, o extraordinário não é a via normal
pela qual Deus guia seus filhos. A fé madura não diz Sim a
qualquer notícia sobre portentos, prodígios e milagres, mas pergunta sempre:
por que deveria eu crer? Qual a autoridade de quem me transmite a notícia? Em
que se baseia? Como fala?
Do que foi dito, segue que:
a) aparições e revelações particulares não devem
ser presumidas nem admitidas em primeira instância num juízo precipitado. Os
fenômenos alegados hão de ser comprovados ou criteriosamente credenciados;
b) diante de um fenômeno tido como extraordinário,
procurem-se, antes do mais, as explicações ordinárias ou naturais (físicas,
psicológicas, parapsicológicas);
c) é preciso levar em conta a fragilidade humana,
sujeita a engano, sugestões, alucinações coletivas, etc. Facilmente quem conta
um fato acrescenta-lhe ou subtrai-lhe um traço que pode ter importância; em
conseqüência, um acontecimento explicável por vias naturais pode tornar-se, na
boca dos narradores, um fenômeno altamente portentoso. Daí o senso crítico, que
deve começar por investigar de que realmente se trata, para depois procurar a
explicação adequada. Leve-se em conta especialmente a tendência dos meios de
comunicação social a provocar artificiosamente as emoções e o sensacionalismo,
sem compromisso sério com a verdade. Dom
Nelson Westrupp, SCJ