Espanha: Suposta vidente do Escorial vai a tribunal por alegados delitos de burla, coacção e detenção ilegal
Madrid, 22 Mai (Lusa) - Uma alegada vidente espanhola, Amparo Cuevas, que desde 1980 afirma ser visitada regularmente pela Virgem, vai responder em Junho em tribunal por alegados delitos de burla, coacções e detenções ilegais, informaram fontes judiciais. *Amparo Cuevas faleceu em 2012
Além de Cuevas, terão que responder 10 colaboradores da associação criada à volta das alegadas aparições na localidade de El Escorial, arredores de Madrid, que tem milhares de crentes em Espanha e Portugal.
O caso relaciona-se com uma queixa apresentada pela Associação de Vítimas das Alegadas Aparições, uma estrutura que durante décadas tem criticado o que considera ser "uma seita" criada em torno da alegada vidente.
Esta associação acusa Cuevas e os seus colaboradores de se aproveitarem de um "fenómeno presumivelmente religioso", para "espoliar pessoas de todo o seu património".
Acusam o grupo de deter mulheres contra a sua vontade, de abusos laborais e de se ter apropriado de importante património de dezenas de pessoas.
Já em Novembro do ano passado os serviços da Inspecção de Trabalho tinham detectado que o grupo era responsável por repetidas fraudes à Segurança Social, afectando 25 trabalhadores em residências de idosos, propriedade de fundações criadas por Cuevas.
Trata-se, na opinião da Associação das Vítimas, da "face" de uma alargada burla imobiliária, escondida por uma "seita" que "capta dezenas de seguidores".
Responsáveis da associação criada em torno das alegadas aparições, ouvidos pela Lusa anteriormente, rejeitaram já todas as acusações de sequestro de fiéis e de burla, afirmando que todas as suas acções respeitam a legalidade.
Julian Anuello, um dos responsáveis do movimento, rejeitou em declarações à Lusa todas as acusações, afirmando que queixas devem ser levadas à polícia e aos tribunais, e alegando que as associações têm fins benéficos e que as contas são prestadas às autoridades espanholas.
Ele próprio juntou-se com a família "à comunidade de famílias" do movimento, um grupo de cerca de 100 pessoas que, "voluntariamente", garante, entregaram todos os seus bens à Fundação criada em torno das aparições e "vivem hoje em comunidade".
Questionado sobre o património do movimento, Anuello admite "não fazer ideia", tal como não sabe se quem está a trabalhar na comunidade faz descontos para a Segurança Social.
O movimento, hoje, funciona assente em duas entidades, a Associação Pública de Fiéis Reparadores (reconhecida pela Igreja como uma associação de fiéis) e a Fundação Benéfica Virgem das Doares (registada no Ministério do Trabalho e Assuntos Sociais).
Divide-se hoje em três braços: um religioso, um de famílias e um vocacional.
No campo religioso a organização conta com 80 "reparadoras", que não são oficialmente freiras - já que não há um reconhecimento de uma ordem religiosa -, das quais 13 são portugueses.
A comunidade de famílias inclui cerca de 100 pessoas, de entre 45 e 50 famílias - das quais pelo menos três são portuguesas - enquanto o vocacional, mais recente, tem oito seminaristas, dos quais três portugueses.
Dado o crescente interesse das aparições em Portugal nasceu já o braço português da Associação Virgem das Dores do Prado Novo do Escorial, estrutura responsável, entre outros aspectos, por organizar as viagens de peregrinação a Espanha.
Um dos casos denunciados pela Associação de Vítimas foi o de uma jovem portuguesa, de 19 anos, que segundo a entidade esteve "sequestrada" durante vários dias pela congregação - já foram feitas denúncias junto das autoridades judiciais de Portugal e de Espanha - e que só conseguiu sair mediante a intervenção dos tios, que se deslocaram de Portugal.
Anuello nega qualquer problema, afirmando que a jovem escolheu "livremente" entrar na Associação e que saiu também livremente.
Alheios a esta polémica antiga, no primeiro sábado de cada mês viajam de Portugal e de vários pontos de Espanha centenas de autocarros com crentes que se congregam para ouvir a vidente, Luz Amparo Cuevas, que diz ter-lhe aparecido Nossa Senhora há 25 anos e que mensalmente transmite uma mensagem nova.
ASP. Lusa/Fim