Após 1988, o chamado para as supostas aparições e Miguel Ángel Poblete Poblete, o chamado vidente, saiu. Seu paradeiro e ocupação se tornaram um verdadeiro mistério.
Até julho de 2002, quando aqueles que o reconheceram no programa Testemunha, preencheram as caixas eletrônicas do Canal 13, fornecendo informações básicas. Começamos a reconstruir os degraus de Michelangelo até aquele dia e conseguimos encontrá-lo.
Sua vida atual era, sem dúvida, tão marcante quanto o brilho de suposto vidente. Um personagem tão temido, idolatrado e misterioso quanto contraditório.
No entanto, era impossível entender o Michelangelo daquela época sem voltar ao passado.
Nasceu em 27 de maio de 1966, em Curicó. Antes de dois meses, sua mãe já o havia dado para adoção e seu pai nunca o reconheceu. A vida em família durou até os 10 anos de idade, quando sua mãe adotiva o entregou a uma casa de crianças por não poder continuar apoiando-o.
Assim, começou uma longa jornada de casa em casa de crianças e chegou a uma casa de crianças, uma espécie de prisão da época.
O psicólogo Julio Irarrázaval o conheceu na época. "Ele foi muito prestativo, estava na categoria da melhor conduta do estabelecimento".
No entanto, há um relatório social da época que fala de sua personalidade "hipocondríaca e histérica".
O documento acrescenta que desde abril de 1980, o garoto de 13 anos "apresentou sérios problemas comportamentais, sendo o mais grave a tendência ao suicídio, que se manifesta a cada três ou quatro dias, ou quando, em casa ou no escola é contradita ".
Dois anos depois, ele seria o responsável pelo Centro de Reabilitação Carlos Van Buren, na Quinta Região, administrado por Irarrázaval.
Foi lá que Miguel Angel iniciou, em meados de 1983, as aparentes visões da Virgem. O então gerente do Centro Infantil acredita que conhece o germe dessas supostas visões do jovem.
"Ele foi informado de que você já está vendendo laranjas, porque ele era muito fantasioso. Os mentirosos eram chamados de vendedores de laranja. Ele era famoso por isso", diz Irarrázaval.
Além disso, ele possuía habilidades particulares que o destacavam, pois era caracterizado por suas condições artísticas.
Para Irarrázaval, o vidente de Peñablanca, sem ser brilhante, era uma criança mais inteligente que a média de seus companheiros.
Alguns dias antes, da primeira das supostas aparições, algo aconteceu em casa que despertaria a imaginação dos jovens, segundo Irarrázaval. "Para um menor muito próximo dele, daqueles que ele protegeu, ele teve um ataque de epilepsia e os menores, antes que essa nova situação aparecesse diante deles, começaram a falar que ele era demonizado".
Entre esses jovens, o tema místico e o sobrenatural se tornaram moda. "Em meados de julho, um grupo desses menores, uma ocorrência frequente neles, subiu o Monte da Virgem para fumar maconha e no caminho de volta eles explodiram. Foi lá quando disseram que tinham aparecido a Virgem", diz Julio Irarrázaval.
Entre eles estava Michelangelo.
Algumas semanas depois, Michelangelo fugia de casa, como tantas vezes. "Lá ele foi a um professor de sua escola que morava em Quilpué. Ela disse que a Virgem havia aparecido para ela. Foi ela quem montou o grande buraco", diz o psicólogo Irarrázaval.
Ninguém entende claramente como o jovem Michelangelo gerou o magnetismo para movimentar multidões. Mas há coincidência sobre sua personalidade. "Michelangelo tinha várias características que poderíamos chamar de histeróide. O histrionismo com o qual ele agiu faz parte da tendência à histeria", diz Gonzalo Ulloa, presidente da Segunda Comissão de Pesquisa Episcopal.
Mas nenhuma dessas características manchadas de modo algum para muitos dos devotos de Peñablanca ainda são aparições verdadeiras da Virgem.
Situações que até hoje cercavam Michelangelo com um halo de santidade e veneração, ampliando o abismo entre aqueles que consideravam Poblete uma farsa usada pelos serviços de segurança do Regime Militar.
Em meados de 1988, as visitas da Virgem, para alguns, e um simples fenômeno de massa, para outros, foram encerradas. Assim começou o crepúsculo do vidente e provavelmente o período mais difícil para Michelangelo.
Primeiro, surgiram dúvidas sobre sua condição sexual. "Nunca se soube que ele teria tido qualquer tratamento homossexual. Isso foi imediatamente conhecido", diz Irarrázaval.
No entanto, o balanço social de 1980 já indicava que "a criança apresenta claras tendências à homossexualidade, chegando várias vezes a se vestir e pintar como mulher, o que traz consigo a zombaria de algumas crianças e a admiração de outras, como mais pequeninos ... "Uma mulher inteira
Um ano após as aparições, Michelangelo apareceu à imprensa como mulher. Com cabelos compridos e um corpo notoriamente mais feminino.
Ele alegou que sempre fora mulher.
Para os pesquisadores eclesiásticos, as fantasias divinas e os subsequentes conflitos de identidade sexual têm apenas uma explicação. "Michelangelo teve o drama de muitos de nossos compatriotas, crianças abandonadas por suas mães biológicas e, no caso de Michelangelo, abandonado por sua mãe biológica, passa de um lar infantil para um lar infantil, com uma série de transtornos de personalidade, de tipo psicológico ", diz Gonzalo Ulloa.
Nos mesmos jornais, alguns dos fiéis de Michelangelo alegaram estar felizes porque as alegações do arcanjo São Miguel foram verificadas. Para eles, era simplesmente uma prova de fé.
Em 1993, ele tentou uma nova aparição pública. Nesse mesmo ano, os telegramas perceberam sua expulsão da Bolívia, depois de garantir que a Virgem de Cotoca chorara lágrimas de sangue.
Em 1994, a imprensa falou sobre desmascarar a farsa da Virgem de Villa Alemana, assegurando com fotografias que Michelangelo era agora uma mulher gorda que dançava e se divertia.
Mas, sua personalidade continuou a ser muito mais complexa. Essas imagens, mostradas pela primeira vez, mostram-na em 1995, obviamente como mulher. Desta vez, longe da exposição pública e do mundo em geral.
Naquela época, ele decidiu definitivamente se chamar Karole Romanov, embora eles mantivessem legalmente sua identidade como Michelangelo Poblete.As supostas aparições retornaram, desta vez manifestando-se em círculos mais fechados.
Hoje mantém um grupo menor de seguidores, mas disciplinado. Estes seriam distribuídos principalmente entre Santiago e a Quinta Região.
Em 21 de março de 2001, a entidade religiosa Apóstolos dos Últimos Tempos foi registrada com personalidade jurídica. Em nenhum dos documentos aparece Miguel Ángel Poblete, como o atual Karole.
No entanto, ela assina os regulamentos, que alegam ter sido entregues pela Virgem através do visionário anjo Calvat, outro nome atual de Michelangelo.
Ao revisar a documentação existente, o especialista Humberto Lagos não tem dúvidas de que hoje Miguel Ángel ou Karole mantém uma seita.
O culto é realizado em particular nas casas dos fiéis e geralmente reúne mulheres mais velhas e, pelo menos entre alguns dos parentes dessas mães e avós, há medo. Bárbara teme até pela vida de sua mãe, que segue a vidente desde que era Michelangelo, em Villa Alemana.
Com as informações fornecidas pelos familiares, pudemos verificar que o grupo teria atualmente cerca de cem pessoas. São principalmente mulheres mais velhas, vestidas quase uniformemente.
Uma tarde, enquanto estávamos gravando, 40 mulheres e muito poucos homens entraram. Vários deles chegaram da Quinta Região, onde existem grupos em Villa Alemana, Quilpué, Limache e Viña del Mar.
Nos documentos vendidos aos missionários, como eles se autodenominam Karole ou Angel, é pedido que eles estejam localizados o tempo todo e, se estiverem ausentes de suas casas, mesmo que seja perto ou durante o dia, devem deixar como localizá-los. Porque eles são lembrados de que são verdadeiros soldados. O regulamento ainda estabelece o tipo de roupa que eles devem usar.
No entanto, é Karole quem aparece o tempo todo como líder. Bem, ela exerce essa liderança, da suposta voz da Virgem.
Durante o suposto êxtase, ele muda de voz e parece acusar seus devotos de que eles não estão orando o suficiente e depois assente como se apenas ela ouvisse a Virgem.
Embora não haja imagens subsequentes desses supostos êxtases, tudo indica que Karole continua argumentando que eles são apresentados. Também o sangramento. Ela diz que são provas de fé e, aparentemente, os missionários do grupo de Karole acreditam neles sem hesitar. "Muitas vezes ele tem estigmas onde começa a sangrar. Mas havia um médico que estava lá e certificou que antes de ficar em êxtase, ela não tinha ferimentos na cabeça", diz Carlos, parente de um membro da seita.
No entanto, o médico a quem Carlos se refere fazia parte do grupo de Karole e ninguém questionou sua palavra. Também são frequentes nas gravações que sangue será retirado do braço ou picadas no estilo dos alfinetes que foram embutidos durante as aparições de Peñablanca.
Como naquela época, também é comum em seu êxtase falar em línguas supostamente estrangeiras.
Se para alguém que não sabe francês, isso soa semelhante, para um falante de francês, não há dúvida de que não é nada. O mesmo poderia acontecer com as orações que ele faz aos fiéis em línguas exóticas como o aramaico ou o búlgaro. No entanto, eles são reais. Mas uma rápida investigação na Internet foi suficiente para descobrir o site de onde as orações foram feitas literalmente.
Assim como ele fez quando foi de casa para casa de crianças, o atual Karole também se acostuma a mudar de casa em casa de seus seguidores. A entidade religiosa aparece com domicílio em El Alamo, 291 de Villa Pizarreño, em Maipú. Mas agora, após o programa Testemunha, ele foi visto na mesma comuna, na Avenida Central 625, em uma casa de propriedade de outro membro do grupo Karole.
Suas despesas são cobertas por seus seguidores. Não há documentos contábeis, mas existem rendimentos mensais, onde pequenas cotas de três mil pesos aparecem, além de rendas de dinheiro entregues a Karole pelos diferentes grupos. Eles também aparecem pratas mensais, dadas a uma suposta irmã Angelica Miner, que aparece no regulamento como coordenadora. As famílias dos devotos do suposto vidente não sabem ao certo quanto dinheiro lhe deram.
Uma ex-vizinha da rua El Alamo, que também prefere se proteger porque tem medo de Karole, lembra-se da conversa com uma dessas avós. "Ela me disse que trouxe mercadorias porque a curou, deu-lhe muita felicidade e entendimento que não tinha em casa, porque atrapalhava os filhos e que havia escolhido dar-lhe a pensão, porque era viúva".
O maior medo dos parentes dessas pessoas é que elas tirem suas vidas.
Um dos últimos editoriais dos textos do grupo não é exatamente tranquilizador. Expressa que os membros do grupo devem estar dispostos a dar a vida, se necessário.
Embora pareça exagero, para Humberto Lagos há uma semelhança perigosa com o caso do suicídio em massa das Guianas. O líder Jim Johns exerceu seu poder sobre aposentados e idosos, com uma mensagem semelhante.
Tudo indica que, por enquanto, eles se reúnem para orar e, de tempos em tempos, fazem o que chamam de consagração. "Cada pessoa que está participando recebe um país em custódia e essa pessoa precisa aprender a cultura do país, orar nesse idioma e tentar se informar sobre tudo o que acontece naquele país", diz Carlos.
Para eles, tudo indica que o mundo está prestes a acabar. "Isso provoca fortes processos de desestabilização emocional em certos grupos de pessoas, principalmente em adultos mais velhos. Portanto, a oferta por trás disso é a oferta de salvação, de transcendência, se for mantida a fidelidade aos ditames ou revelações que Miguel Angel está mantendo ", diz Humberto Lagos.
O suposto visionário Michelangelo ou Karole, que exerce um magnetismo sobre seus seguidores, também tem outra face que nada tem a ver com religiosidade e fanatismo. "Quando as pessoas estavam rezando, ela vivia uma vida social dentro de casa. Ela bebia suas cervejas. Eu nunca a vi bêbada, mas ela nunca esteve com as pessoas rezando", diz Carlos.
Nem mudou muito quando Karole era Michelangelo. Seu gosto por cerveja já era conhecido na época.
Encontramos fotos que foram tiradas em junho, nas quais Karole, aquela que supostamente experimenta êxtase, aparece com seu novo visual comemorando seu aniversário na dicoteca exclusiva Santiago New, em Maipú.
Em dezembro do ano 2000, na Villa Nuevo Horizonte, em San Pablo, onde ele também morava por um tempo, foram capturadas algumas imagens, nas quais o líder dos Apóstolos dos Últimos Tempos se contrapõe ao sigilo e exige que impõe a seus seguidores.
Essa outra Karole, festiva e alegre, é tremendamente amada nos lugares que visitei e com muita imaginação, como sabem os proprietários e funcionários dos Pubs e Dicotecas de Maipú.
Também existem características em Karole daquele garoto chique que eles chamavam de vendedor de laranja. "Ele disse que havia estado na Guerra do Golfo e atendido soldados, o fim das coisas", diz Cristina.
Tal é a capacidade de convicção que exerce entre seus seguidores que, mesmo eles, estão convencidos de que Karole ou Michelangelo tiveram filhos biológicos. "Ela se casou, teve um parceiro, mas não tenho certeza se eram duas ou três vezes a que ela estava grávida. As crianças os abandonaram para adoção. Pelo menos, no momento em que a vi, ela estava grávida, porque era verão e pode-se Quero dizer, a camisa é muito fina, curta e também com um vestido curto, mostra que ele é uma pessoa grávida, não uma almofada ", diz Carlos.
Após a transmissão do programa Testemunha, em um gesto tão teatral quanto toda a sua vida, Karole ou Michelangelo desapareceram.
Nos bairros de Maipú, onde ele costumava andar, eles nunca concordavam.
Em Villa Pizarreño, a maioria disse que nada sabia por causa do medo. Um dos poucos vizinhos que ousaram falar, e que se sente decepcionado com o suposto vidente, foi fortemente advertido sobre a nossa presença, por um amigo de Karole.
Na Avenida Central, no entanto, todos estavam dispostos a falar bem dela. Eles até afirmam que ela é médica no Hospital Paula Jaraquemada. Obviamente, isso não funciona lá.
Enquanto, por um lado, ele estava escondido sob sua rede de proteção, ela ou ele em mais um de seus gestos inexplicáveis apareceu, muitas vezes, como assistente de um show público.
Lá nós o descobrimos com seu nome atual, com mais quilos e esse coquetel ambíguo.
Foi um gesto desafiador depois de um interesse renovado em sua pessoa. Ele também carregava o símbolo dos Apóstolos dos Últimos Tempos, a cruz com as tenazes e o martelo, para lutar contra o comunismo ateísta, como insinua sua regulamentação.
Após esta breve exposição pública, desapareceu novamente.
Na última casa conhecida na Avenida Central, tentamos conversar com a amiga que a acompanhou naquele evento. Mas ela negou.
Em 1998, Karole gravaria uma fita com uma mensagem que circulava em particular. Nele, ele resume o custo que pagou depois de estrelar as supostas aparições de Villa Alemana. "Eu queria ser um ser humano, mas o Chile me matou, vulgarmente me matou. A imprensa, a fundação, todo mundo se aproveitou de mim, e nunca perguntou o que eu sentia no meu coração, o que eu sentia naqueles momentos. Eu realmente não entendo nada." .
