Bendizei
os que vos perseguem, bendizei-os, e não os amaldiçoeis, diz São Paulo na
sua Epístola aos Romanos (12, 14).
Amaldiçoar significa desejar o mal a uma pessoa, lugar ou coisa.
Uma maldição frequente na boca dos que têm pouco respeito pelo nome de Deus
é “Deus te amaldiçoe”, que é a mesma coisa que dizer “Deus te mande para o
inferno”. É evidente que uma maldição desse estilo seria pecado mortal se
fosse proferida a sério. Pedir a Deus que condene uma alma que Ele criou e
pela qual Cristo morreu, é ato grave de desonra a Deus, ao nosso Pai
infinitamente misericordioso. É também um pecado grave contra a caridade,
que nos obriga a desejar e a pedir a salvação de todas as almas, não a sua
condenação eterna.
Normalmente, uma maldição assim surge da ira, da impaciência ou do ódio, e
não a sangue-frio; quem a profere não o faz sério. Se não fossem assim,
seria pecado mortal, mesmo com a desculpa da ira. Ao considerar os abusos
para com o nome de Deus, convém, pois, ter presente que, mais do que as
palavras ditas, o pecado real é o ódio, a ira ou a impaciência. Ao
confessar-nos, é mias correto dizer: “Irritei-me e, levado pela irritação
amaldiçoei alguém” ou “Irritei-me e fui irreverente com o nome de Deus”, do
que simplesmente confessar-nos de ter amaldiçoado ou blasfemado.
Além dos exemplos mencionados, há certamente outras maneiras de amaldiçoar.
Cada vez que desejo mal a alguém, sou culpado de ter amaldiçoado. “Morra e
deixe-me em paz”, “Oxalá você quebre a cabeça!”, “Que vão para o diabo que
os carregue, ele e todos os seus”. Nestas ou em outras frases parecidas
(geralmente proferidas sem deliberação), falta-se contra a caridade e a
honra de Deus.
O princípio geral é que, se o mal que desejarmos é grave, e o desejarmos a
sério, o pecado é mortal. Se desejarmos um mal pequeno (“Gostaria que lhe
amassem o carro e lhe dessem uma lição”), o pecado será venial. E, como já
se disse, um mal grave desejado a alguém é apenas pecado venial quando falta
premeditação.
Se nos recordamos de que Deus ama tudo o que saiu das suas mãos,
compreenderemos que é uma desonra a Deus amaldiçoar qualquer das suas
criaturas, ainda que não sejam seres humanos. No entanto, os animais e as
coisas inanimadas têm um valor incomparavelmente inferior, pois não possuem
alma imortal. E assim, o fã das corridas de cavalos que grita: “Oxalá esse
cavalo quebre as pernas!”, ou o encanador que amaldiçoa com um “O diabo que
te carregue!” o cano entupido que não consegue consertar, não comete
necessariamente um pecado.
Mas é útil recordar aqui os pais a importância de formar retamente as
consciências dos filhos nesta matéria da má língua. Nem tudo o que chamamos
palavrão é um pecado, e não se deve dizer às crianças que é pecado aquilo
que não o é. Por exemplo, as palavras como “diabos” ou “maldito” não são em
si palavra pecaminosas. O homem que exclama: “Esqueci-me de levar ao correio
a maldita carta”, ou a mulher que diz: “Maldito seja!, outro copo
quebrado!”, utilizam uma linguagem que alguns acharão pouco elegante, mas
que não é certamente linguagem pecaminosa. E isto se aplica também aos
palavrões, de uso tão frequente em certos ambientes, que descrevem partes e
processos corporais. Essas palavras serão grosseiras, mas não são pecado.
Quando o menino vem da rua com um palavrão recém-aprendido nos lábios, os
seus pais cometem um grande erro se mostram gravemente escandalizados e lhe
dizem muito sério: “Essa palavra é um grande pecado, e Jesus não amará você
se voltar a dizê-la”. Dizer isso a uma criança é ensinar-lhe uma ideia
distorcida de Deus e confundi-la na formação da sua consciência, talvez para
sempre. O pecado é um mal suficientemente grave e terrível para ser
utilizado como bicho-papão no ensino das boas maneiras aos meninos. Basta
dizer-lhes com calma: “Joãozinho, você disse uma palavra muito feia; não é
pecado, mas os meninos bem educados não dizem essas coisas. Mamãe ficará
muito contente se você não a disser mais”. Isto será suficiente para quase
todas as crianças. Mas, se alguma não se emenda e continua a usá-la, convirá
explicar-lhe então que há aí um pecado de desobediência. Mas, na educação
moral dos filhos, é preciso manter-se sempre na verdade.
Na blasfêmia, há diversos graus. Às vezes, é a reação não premeditada de
contrariedade, dor ou impaciência perante um contratempo: “Se Deus é bom,
como permite isto?”, “Se Deus me amasse, não deixaria sofrer tanto”. Outras
vezes, blasfema-se por frivolidade: “Este é mais espero que Deus”, “Se Deus
o leva para o céu, é que não sabe o que está fazendo”. Mas também pode ser
claramente antirreligiosa e até proceder do ódio a Deus: “Os Evangelhos são
um conto de fadas”, “A Missa é uma conversa”, e chega a afirmar: “Deus é um
mito, uma fábula”. Neste último tipo de blasfêmia há, além disso, um pecado
de heresia ou infidelidade. Sempre que uma expressão blasfema implica em
negação de uma determinada verdade de fé, como, por exemplo, a virgindade de
Maria ou o poder da oração, além do pecado de blasfêmia, há um pecado de
heresia. (Uma negação da fé, em geral, dentro das condições que vimos acima,
é um pecado grave de infidelidade).
Por natureza, a blasfêmia é sempre pecado mortal, porque sempre supõe uma
grave desonra a Deus. Só quando não há suficiente premeditação ou
consentimento é que é venial, como seria o caso de proferi-la sob uma dor ou
uma angústia grande.
Com o pecado da blasfêmia completamos o catálogo das ofensas ao segundo
mandamento: pronunciar sem respeito o nome de Deus, jurar desnecessária ou
falsamente, fazer votos frivolamente ou quebra-los, amaldiçoar e blasfemar.
Quando se estudam os mandamentos, é preciso ver o seu lado negativo para
adquirir uma consciência retamente formada.
No entanto, neste mandamento, como em todos os outros, abster-se de pecado é
apenas a metade do quadro. Não podemos limitar-nos a evitar o que desagrada
a Deus; também devemos fazer o que lhe agrada. De outro modo, a nossa
religião seria como um homem sem perna nem braço direitos.
Assim, do ponto de vista positivo, devemos honrar o nome de Deus sempre que
tenhamos que fazer um juramento necessário. Nestas condições, um juramento é
um ato de culto agradável a Deus e meritório. E o mesmo ocorre com os votos;
a pessoa que se obriga com um voto prudente, sob pena de pecado, a fazer
algo grato a Deus, faz um ato de culto divino, um ato da virtude da
religião. E cada ato derivado desse voto é também um ato de religião.
As ocasiões de honrar o nome de Deus não se limitam, evidentemente, a
juramentos e votos. Existe, por exemplo, o louvável costume de fazer uma
discreta reverência sempre que se pronuncia ou se ouve pronunciar o nome de
Jesus. Ou o excelente hábito de fazer um ato de reparação sempre que se
falta ai respeito devido ao nome de Deus ou de Jesus na nossa presença,
dizendo interiormente: “Louvado seja Deus”, ou “Louvado seja o nome de
Jesus”. Há também o ato público de reparação que fazemos sempre que nos
unimos aos louvores que se costumam rezar depois da Bênção com o Santíssimo
Sacramento.
Honra-se publicamente o nome de Deus em procissões, peregrinações e outras
reuniões de pessoas organizadas em ocasiões especiais. São testemunhos
públicos de cuja participação não nos deveríamos retrair. Quando a divindade
de Cristo ou a glória de sua Mãe é a razão primordial dessas manifestações
públicas, a nossa participação ativa honra a Deus e o seu santo nome, e Ele
a abençoa.
Mas o essencial é que, se amamos a Deus de verdade, amaremos o seu nome e,
consequentemente, nunca deixaremos de pronunciá-lo com amor, reverência e
respeito. Se tivermos o hábito infeliz de usá-lo profanamente, pediremos a
Deus esse amor que nos falta e que tornará o uso irreverente do seu nome
amargo como o quinino nos nossos lábios.
A nossa reverencia pelo nome de Deus levar-nos-á, além disso, a encontrar um
gesto especial nessas orações essencialmente de louvor, como são o “Glória
ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo”, que deveríamos dizer com muita
frequência, o “Glória” e o “Santo, Santo” da Missa. Às vezes, deveríamos
sentir-nos movidos a utilizar o Livro dos Salmos para a nossa oração, esses
belos hinos que em Davi canta repetidas vezes os seus louvores a Deus, como
o Salmo 112, que começa assim:
Aleluia! Louvai, ó servos do Senhor,
louvai o nome do Senhor.
Bendito seja o nome do Senhor,
agora e para sempre.
Desde o nascer ao pôr do sol,
seja louvado o nome do Senhor.
Retirado do livro: “A Fé Explicada”. Leo J. Trese. Ed. Quadrante.
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