As origens de Garabandal
Para melhor pudermos entender a história de Garabandal, temos primeiro que recuar algumas centenas de anos atrás, quando se iniciou na região das Astúrias a reconquista cristã. Quero informar que Garabandal é uma aldeia vizinha desta região que foi provavelmente povoada por volta dessa altura da reconquista. Garabandal fica a de Covadonga e a alguns quilometros do mosteiro de Liebana, mesmo ali ao lado.
Poucas ou quase nulas são as informações sobre o início da entrada do cristianismo na península Ibérica e em Garabandal. Sabe-se no entanto que o povo cantábrico era um povo pré-romano, tendo sofrido a romanização por meados do ano de 29 A.C.
Entre a história e a lenda, foi indicado a viagem do apóstolo Santiago, bem como a visita à Hispânia por parte do apóstolo São Paulo. Essa informação encontra-se indicada na sagrada Bíblia, na epístola aos romanos. Segundo Tertuliano (famoso escritor latino do século II d.c.), a entrada do Cristianismo extendeu-se ao norte peninsular com verdadeiro êxito, nomeadamente nas povoações da região da Cantábria e Astúrias, que tanto haviam resistido às investidas romanas. Pode-se assim afirmar com toda a certeza que já no século II D.C. havia algumas comunidades cristãs nestas regiões. Os primeiros mártires cristãos desta região foram o santo Emetério e Celedónio da região de Santander, perseguidos por terem abraçado a fé cristã, isto porque naquela altura os cristãos eram ainda considerados inimigos do império romano.
Entre o século V e século VIII, após a queda do império romano, a península ibérica foi invadida pelos povos germânicos (ano 409 a 711 d.c.), entre eles os suevos e os visigodos que predominavam em quase toda a península Ibérica, através da instauração de várias monarquias que se foram sucedendo ao longo dos tempos. Numerosas batalhas deram-se entre este dois povos, pois era ambas suas intenções governar toda a península Ibérica. Por diversas vezes os povos visigodos tiveram ajuda do império Romano, com objectivos puramente estratégicos e políticos. No entanto, na zona menos romanizada do noroeste da Hispânia, resistiam mais uma vez às investidas destes povos germânicos, os povos das Astúrias e da Cantábria, regiões onde se situa Garabandal.
Os povos visigodos acabaram por extender todo o seu domínio à península Ibérica, isto já no reinado do monarca visigodo Leovigildo. O filho de Leovigildo, Hermenegildo converteu-se mais tarde ao catolicismo, religião contrária ao da maioria dos visigodos, que praticava o arianismo. Alguns séculos mais tarde, Hermenegildo foi considerado mártir da igreja católica, patrono dos convertidos e acabou por ser canonizado mais tarde pelo Papa Sisto V. Hermenegildo foi morto e decapitado no Domingo de Páscoa pelo facto de ter afirmado a sua fé cristã, que era contrária à de seu Pai. O seu dia de Santo é comemorado a 13 de Abril. Após a morte de Leovigildo, o Rei visigodo Recaredo converte-se também ao Catolicismo noIII Concílio de Toledo, em589 D.C. , e marca assim o inicio de uma estreita aliança entre a monarquia visigoda e a Igreja católica ibérica, desenvolvida marcadamente ao longo do século VII
I.
Após a conquista dos árabes no século VIII, grandes monarcas visigodos que reinavam nesse tempo, fugiram para a região das Astúrias, região essa que estava fora do alcance da conquista Muçulmana, entre eles o oficial Pelayo. Foi nesta região das Astúrias, em Covadonga, que se realizou a famosa e importante Batalha de Covadonga. Esta foi a primeira grande vitória das forças militares cristãs na península Ibérica a seguir à invasão árabe em 711. Uma década depois destes acontecimentos, provavelmente no verão de722, a vitória de Covadonga assegurou a sobrevivência da soberania Cristã no Norte da Península Ibérica, sendo considerado por muitos como sendo o inicio da reconquista cristã.
Sete anos depois da invasão árabe sobre Hispânia, Pelayo das Astúrias, um nobre descendente dos monarcas visigodos, conseguiu expulsar um governador provincial, Munuza, do distrito das Astúrias, no noroeste da Península. Conseguiu ainda segurar o território contra inúmeras investidas dos árabes. Depressa estabeleceu o Reino das Astúrias, que viria a transformar-se na região cristã de soberania contra a expansão islâmica. Pelayo, embora incapaz de conter os Muçulmanos em muitas situações, sobrevivia e dinamizava o movimento para a Reconquista cristã.
Para que isto fosse possível Pelayo distribuiu os seus homens, pondo-os a postos nos cumes dos morros com o objectivo de atacar e ferir o inimigo islâmico. Aos desprovidos de armas, muniu-os de alavancas e picaretas, para removerem as pedras e fazê-las cair sobre os assaltantes, enquanto ele, com quantos soldados pôde reunir, emboscou-se numa caverna ou gruta, chamada pelos nativos de “a caverna de Covadonga”, e ali esperou pacientemente pela chegada dos mouros, encomendando-se fervorosamente, a si e a seus restantes soldados, a Deus e à poderosa intercessão da Santíssima Virgem Maria.
Alkamar, após a retirada de Dom Pelayo de Cangas de Onis, pensou que o pânico tinha sido instalado entre os cristãos. A confiança de Alkamar na vitória quase certa contra os cristãos, fez com que ele entrasse de forma ousada na estreita garganta que dá acesso ao monte Auseba e à caverna de Covadonga. Iniciou-se assim aquele grande combate verdadeiramente épico, do qual se conservará a memória enquanto o mundo existir: os muçulmanos, numerosos e bem armados, os cristãos pouco numerosos, e grande parte deles sem outras armas senão as que a natureza punha à sua disposição naqueles abruptos lugares, mas cheios de confiança em Deus e na poderosa intercessão da Virgem Imaculada. Uma chuva de flechas anunciou aos cristãos o feroz ataque dos mouros, mas a surpresa destes não teve limites quando verificaram que, antes de as forças de Dom Pelayo responderem à acometida, muitos dos mouros, feridos pelas mesmas flechas lançadas contra os cristãos, caíam por terra dando gritos de dor.
As pedras e troncos de árvores lançados pelos cristãos das alturas do monte Auseba causaram também enormes danos ao exército dos mouros, dizimado ao mesmo tempo pelas flechas que os soldados de Pelayo atiravam sobre eles da gruta de Covadonga, as quais feriam sempre, pelo facto de os mouros se encontrarem encurralados na referida garganta, pela qual unicamente podiam atacar. Como consequência deste desastre, Alkamar morreu nesta batalha e no seu lugar ficou Suleiman, que tentou ganhar o sopé do monte Auseba,
Naquele preciso momento de agitação, desabou uma furiosa tempestade, que veio aumentar o espanto e o terror dos que iam já sendo derrotados. O som dos trovões, cujo eco era reflectido de serra em serra, a chuva que caía com grande abundância, as pedras e as árvores que de todos os lados caíam sobre os árabes, o solo que com a chuva se tornava movediça e escorregadia, fazendo-os resvalar e cair por aqueles declives, precipitando-os nas águas do rio Deva, onde morriam afogados, tudo contribuiu para se crer, com fundamento, que a mão do Senhor fazia até com que se desmoronassem os montes sobre os soldados de Mafoma. Horrível foi a mortandade no exército mouro, naquela memorável batalha, tendo quem afirmasse que não ficou um só mouro com vida! Um reduzido número de homens, dentro de uma caverna ou escondidos por entre as penhas, bastou para aniquilar, no breve espaço de algumas horas, um poderoso exército. É forçoso reconhecer, portanto, nesse conjunto de extraordinárias e portentosas circunstâncias, algo que parece exceder os limites do natural e humano. Em poucas ocasiões terá sido mais manifesta a protecção do céu, por isso não admira que os escritores de uma época de tanta fé atribuem essa milagrosa vitória à mediação da Virgem Maria, cuja imagem havia Pelayo levado consigo para a caverna. O resultado imediato da batalha de Covadonga foi a proclamação de Pelayo como Rei das Astúrias.
Por causa da grande intervenção milagrosa da Santíssima Virgem, o Rei Dom Afonso I, o católico, mandou erigir o mosteiro e a capela de Nossa Senhora de Covadonga. Deram-lhe este título por causa da caverna na qual lutaram Dom Pelayo e os seus guerreiros, onde foi colocada a imagem de Nossa Senhora que Dom Pelayo tinha levado para a memorável gruta, que anteriormente estava situada numa ermida de pequenas dimensões, perto da gruta.
A antiga ermida e a gruta ou caverna que Dom Pelayo usou para esperar o ataque dos mouros são os dois locais que mais atraem actualmente a atenção dos peregrinos.
«Cuando marchaban los musulmanes por el alto del que está sobre la ribera del rio que se llama Deva, junto a la villa que llaman Cosgaya, ocurrió por Sentencia de Dios que ese monte, revolvíendose desde sus fundamentos, lanzó al rio a los 63.000 hombres, y allí los sepultó a todos el tal monte, donde todavía ahora ese rio, cuando retorna a su cauce, muestra muchas señales evidentes de ellos.”
Após a conquista de Covadonga, foi constituído o reino asturiano com D. Pelayo a quem sucedeu Afonso I, filho do seu colaborador, o duque Pedro de Cantábria que casou com Ermesinda, filha do líder de Covadonga, D. Pelayo.
Este Rei de sangue cantábrico teve como responsabilidade a povoação e organização do território de Liebana com cristãos de vários lugares, com o objectivo de criar um vazio estratégico como fronteira frente aos islamistas situados no vale do Douro. Entre eles vieram monges que se instalaram em numerosos lugares, fundando vários mosteiros como o de San Martin de Turieno, que com o tempo se transformou em Santo Toríbio de Liébana, situado a poucos quilómetros de Garabandal. Entre essas novas povoações poderá ter surgido também a aldeia de Garabandal. Aliás, os traços de religiosidade secular, encontram-se gravados nas pedras de algumas casas desta aldeia.
Foi depois em meados do século VIII, e uma vez consolidada a reconquista nesta zona, que este mosteiro recebeu os restos mortais do bispo Toribio de Astorga e as relíquias do “ Lignum Crucis “ (restos da cruz de Cristo), que de acordo com a história, foi trazido por ele próprio de Jerusalém para ser depositado num lugar seguro como era o deste mosteiro e também devido ao prestígio que o mesmo tinha adquirido em todo o território cristão.